"Eu cheguei a este planeta para explorá-lo. Minhas tarefas usuais envolviam observar o fluxo dos rios, examinar os materiais dos tijolos que compõem a cidade, analisar a inclinação das estradas e documentar o número e a distribuição de chaminés... Essas tarefas estavam alinhadas à imaginação das pessoas sobre preservar as 'memórias' de um planeta."
– No entanto, esses esforços não eram o bastante.
Depois que comecei a trabalhar em segredo, eu costumava passar por aquela garota. Às vezes, a luz do sol dançava pelas folhas enquanto ela andava por debaixo delas, desaparecendo pelos cantos assim que os postes de luz iluminavam os arredores. Em outras ocasiões, a visão dela seguia um pombo-correio que deixava os aposentos do sacerdote toda quarta-feira à noite para só voltar na manhã seguinte para o chefe dos guardas do palácio, um conhecido adversário político do sacerdote. Às vezes, ela observava silenciosamente a chuva escorrer pelos esgotos marcados pela artilharia disparada do outro lado da costa. E, em outras, ondas encharcavam sua saia, enquanto uma mulher mais velha lavava as roupas perto do rio e contava a história do último soberano e seus cinco filhos ilegítimos.
– Poucos indivíduos, além de nós, compreendem que um planeta esconde e protege suas "memórias" dessa forma.
Eu a acompanhei por trás até alcançarmos uma rocha na charneca. Eu sabia que era hora de convidá-la.
"O que você vê?" Eu perguntei, em uma forma visível a ela.
Ela apontou para uma parte com ervas daninhas e outros resquícios.
"Eu vejo uma pedra, que talvez tenha sido parte de uma lareira... Mas pode ter tido muito mais importância."
Eu meneei a cabeça e a ajudei a remover as ervas daninhas e sujeira das fendas da pedra.
"Já foi um monumento", ela murmurou, acariciando gentilmente as gravuras adornando a superfície.
"Sim, mas a 'memória' tem mais relevância."
Assim, eu revelei a ela que a pedra na charneca já serviu como fogueira, um monumento antes disso, um jardim e até mesmo um altar... E antes de tudo isso, ela era apenas uma pedra em uma charneca.
"Que preço eu teria que pagar se quisesse ver essas 'memórias'?"
"As pessoas continuarão alheias à sua presença, a não ser que você esteja disposta a se revelar."
"Do mesmo jeito que as pessoas falham em reconhecer a existência de cisnes negros até encontrarem um?"
"Sim, exatamente assim."
— Memórias de uma ExploradoraMemoriadores viajam para inúmeros planetas, obtendo as memórias de cada cidade que encontram. Eles tomam cuidado para não deixar qualquer traço de sua presença, garantindo que ninguém se lembre deles, a não ser que encontrem alguém com o potencial de se tornar um Memoriador. Essa pessoa é, então, levada da cidade para a vasta expansão das estrelas.