Himeko

Uma cientista aventureira que, ainda jovem, encontrou o Expresso Astral quando ele encalhou em seu mundo natal.
Anos depois, quando Himeko finalmente consertou o Expresso e começou sua jornada rumo às estrelas, ela percebe que esse é apenas o começo. Em sua jornada rumo ao mundo da exploração, ela precisaria de muito mais companheiros...
E mesmo cada um tendo destinos diferentes, todos observam o mesmo céu estrelado.

A garota está perdida.

Ela não consegue se lembrar de quando foi que se perdeu. Ela só andava e andava, sempre em frente na noite escura, perseguindo o sol e a lua, de novo e de novo... até cair.

Ela se lembra de como era na época do colégio. Lembra do curso que escolheu: dinâmicas da viagem interestelar. E, agora, está caída com a cara na lama.

E assim, ela observa as estrelas, e só então, avista meteoros: um, dois, três... Além de mais alguns menores, que tremeluziam delicadamente até uma chama magnífica rasgar a noite.

Suas pernas a fazem seguir em frente, levando-a até onde a terra encontra o oceano. Nas margens, as águas a empurram, como a maré trata o Expresso encalhado, sozinho e perdido.

Ela entra e vê a paisagem começar a mudar. O Expresso mostra a ela uma infinidade de mundos magníficos. Eles estão distantes, muito além do seu mundo natal, mas perto o bastante para chegar com uma simples viagem de trem.

Ela tenta consertar o Expresso. Ele dá a partida brevemente, mas é o suficiente para deslizar sobre o céu de sua casa. Ela imediatamente vê o caminho para casa. Daquela altura, a jornada é tão curta, e até mesmo o oceano da sua terra natal parece ser insignificante.

O trem a perguntou se ela gostaria de viajar junto. Ela imagina que tipo de viagem seria aquela.

"Uma jornada ao início."
"Vamos", respondeu a garota sem hesitar. "Assim como você me trouxe para casa, também quero levá-lo à sua."

Himeko tem uma maleta.

Essa maleta é sua arca do tesouro. Antes, ela a enchia com todo tipo de ferramentas para consertar o Expresso. Mas agora, a maleta conta com uma serra molecular, um satélite escapado e inúmeros outros dispositivos. Isso é a personificação dos caprichos dela e prova de sua vontade resoluta.

Nenhum companheiro de viagem é mais fiel a ela do que essa mala. Passageiros vem e vão do Expresso, e talvez nem mesmo "o condutor" seria capaz de acompanhá-los do início ao fim.

Mas ela não se importa. Ela não se importou quando aquele homem pretensioso de cabelos loiros foi embora sem dizer adeus, e tampouco se importava com seu distante mundo natal e velhos amigos.

Ela sabe que essa jornada é solitária. Mesmo que ela conhecesse companheiros de viagem com interesses semelhantes, mesmo que ela fosse agraciada com a generosidade deles. Mesmo que pudesse ver o fim dessa jornada ao lado de seus companheiros... Tudo não passa de um acaso momentâneo para ela.

Ela sabe que a jornada é solitária. Ninguém pode seguir os mesmos passos de outra pessoa. Ninguém pode vivenciar por outra pessoa tudo aquilo que acontece em uma jornada. Ela só pode contar com seus pares de olhos e pés.

E é por isso que ela guarda naquela mala todas as paisagens que aqueles olhos já avistaram e todas as pegadas que aqueles pés já deixaram.

A memória de Himeko é muito boa.

Quanto mais longa a jornada, mais companheiros de viagem ela acumula. Ela ainda consegue se lembrar de muitos deles.

Ela lembra das conversas constrangedoras com Pom-Pom e como os primeiros dois passageiros que subiram a bordo do Expresso foram Welt e seu amigo loiro. Ela lembra de como o taciturno Dan Heng derrotou os monstros que podem engolir estrelas com apenas um golpe de sua lança. Ela lembra de como 7 de Março despertou de seu sono gélido, de todas as roupas que confeccionou para Março, e do ela mais ama. Ela lembra de como a Tripulação chegou à Estação Espacial Herta, de como ela conheceu Desbravador/Desbravadora e tornou a embarcar em uma nova jornada.

Ela lembra das especificações de cada um dos componentes do Expresso e de como eles são montados. Ela lembra de quando lubrificar os rolamentos e de quando cada planta lá presente precisa ser regada. Ela lembra do limite inegociável de Pom-Pom e de que Welt tem passatempos bastante infantis. Ela lembra que Dan Heng vive passando noites acordado para organizar o Banco de Dados e de como 7 de Março adora dormir. Ela lembra das personalidades, dos hábitos, dos passatempos, dos aniversários e de todas as datas comemorativas de todos a bordo do Expresso. E ela lembra de muito, muito mais.

Não há prazer maior para Himeko do que saber que todos podem alcançar seus destinos no Expresso.

"Toda viagem tem um ponto final. Quando isso acontece, sorrio e me despeço de todos que se vão."

Ela sempre diz isso, e ela jamais se esquecerá de fazer isso.

Foi a memória que moldou a estrada que ela seguiu, e será a memória que um dia a levará de volta aos mares de onde veio.

"Que jornada longa.", disse Himeko.

"Estou esperando já há tanto tempo." ████ olha para ela: "Não foi o azar que a levou por este caminho, mas sim a curiosidade e a vontade de viajar."

"Claro", comentou com um sorriso, "Mas, eu não sou tão experiente quanto você."

"Não, nunca passei por nada assim." ████ balança a cabeça: "Existem tantas rotas quanto existem pés para trilhá-las."

"No momento, podemos até estar no mesmo lugar, mas temos pensamentos e visões diferentes."

E assim, juntos, observam as estrelas em silêncio. Foi aí então que avistaram meteoros: um, dois, três... Além de mais alguns menores, que tremeluziam delicadamente até uma chama magnífica rasgar a noite.

Uma voz baixa torna a perturbar o ar calmo: "O que você vê?"

"Que a jornada das estrelas chegou ao fim", diz ela.

████ ri: "Já eu vejo que a jornada delas está apenas começando."

E o silêncio reina outra vez.

"Vamos voltar. Eles estão me esperando."

████ permanece em silêncio, até que decide perguntar: "A jornada até aqui a deixou feliz?"

Ela pega sua maleta e começa a andar em direção ao Expresso, sem olhar para trás.

"Como sempre."