Hysilens

Styxia, a pólis costeira da embriaguez e dos sonhos, onde os ecos de antigas canções ainda flutuam entre as ondas.
Helektra, Filha do Mar, Herdeira de Chrysos, purifica a Chama Primordial do Oceano, dissipa as correntes turvas e orquestra um banquete de celebração para os heróis de além do céu.
O espetáculo deve continuar. Mesmo que a esperança seja frágil como uma bolha, as ondas continuarão a avançar.

Quando a luz do sol filtrava através da superfície, a respiração do mar cintilava com um caleidoscópio de cores. Era o momento mais alegre do dia para as sereias.
"♫ Plop ♫" "♫ Tica ♫" "♫ Bo-pom ♫"
A princesa Sereia perseguia bolhinhas com alegria. Seu momento favorito era quando uma delas parava em seu nariz, bem antes de estourar e espalhar uma explosão de cores pela água.

Em meio aos corais que se estendiam por quilômetros, as Sereias cantavam. As pérolas ali brilhavam como estrelas, ornamentos perfeitos para uma corda de arco.
A música fluía dos dedos de Helektra como uma corrente suave, passando pelos companheiros que se deleitavam com a alegria do hidromel.

"♫ Olhe, naquele navio brilhante e agitado, como os humanos devem estar felizes. ♫"
"♫ Você anseia por aquele que salvou enquanto sua voz ainda ecoa em sua alma. ♫"
"♫ Nobre princesa, despreocupada Helektra, para onde você irá? Para o mar gélido do norte, ou para o mundo sem limites dos homens? ♫"

As Sereias bêbadas se reuniram ao redor dela, a curiosidade ondulando e se enrolando como algas marinhas.
"♫ O mundo lá em cima é barulhento, o polo é frio demais... ♫"
Ela tocou uma bolha e balançou a cabeça com um sorriso:
"♫ Eu vou ficar onde as canções ainda ecoam... ♫"

Mas logo, uma corneta de aviso ecoou das profundezas, interrompendo a celebração.
As Sereias seguiram Helektra até as profundezas, enquanto a Majestade do Oceano se dirigia a seu povo...

"♫ A maré negra manchará nossas correntes de cristal, então conjuraremos as ondas sagradas, atraindo a imundice para o Grande Cálice, até que o Conflito brilhe contra a maré negra... ♫"
"♫ Filhas do mar, vocês já escolheram seu caminho? Quando a maré negra recuar, vão para Styxia. Lá, as pessoas da terra erguerão suas taças em sua honra! ♫"

Dia após dia, Helektra guiava as Sereias pelo mar que escurecia, limpando as correntes corrompidas.

"♫ Não desistam, minhas amigas, até nos afogarmos em triunfo. ♫"
"♫ Não esqueçam, minhas amigas, vamos nadar até o lugar distante. ♫"
"♫ Adiante, minhas amigas, a esperança vibrante agita o ar. ♫"

E dia após dia, Helektra cantava. Como uma Titânea, ela sabia que guardar essas águas era o destino escrito em sua própria alma...

Helektra mergulhou no abismo, seu canto desvanecendo até se tornar a única luz que restava no oceano escuro.

O recife de coral, antes exuberante, tinha se transformado em um cemitério de pedras sem vida.

Na primeira vez em que ela cravou sua lâmina na Criatura da Maré Negra, suas mãos tremeram levemente.
Na centésima vez em que ela enfrentou uma antiga amiga corrompida, suas cordas sem vida podiam cortar carne sem hesitação.
Na milésima, na décima milésima vez... Pérolas de seu instrumento se espalharam pelo mar, e as águas profundas se transformaram em sangue...

Nas ruínas silenciosas daquele palácio esquecido, apenas Helektra permanecia em seu festim solitário.

"♫ O povo da terra fará festas sem fim, para honrar nosso sacrifício... ♫"
A canção melancólica ecoou pelo mar, enquanto o Titã do Conflito entrava na luta contra a maré negra. E pela primeira vez, Helektra emergiu das águas escuras com alegria no coração.

Ela adornou seu rosto com pérolas. Sua cauda se dividiu em pernas. A espuma do mar em seu corpo se transformou em um vestido. A maré agitada não mais rugia sobre sua cabeça, mas agora sussurrava sob seus pés.
Gaivotas gritavam no céu em tons arrepiantes. As ondas se aquietaram por um momento, e então rolaram novamente.
Como se o sonho tivesse estourado como uma bolha e nunca realmente existido.
Ela suportava cada passo em direção à Terra Prometida de Styxia com uma dor lancinante, como se estivesse caminhando sobre facas...

A terra fedia com um ar pútrido enquanto os cadáveres se empilhavam. O conflito e o fogo devastavam cada canto... Mas o banquete prometido pelas divindades não estava em lugar algum.

"Eu... Hy...si..."
A voz dela raspava no ar poluído.
Ela tinha tentado aprender a língua dos humanos, mas suas palavras barulhentas e irregulares tornavam impossível cantar como ela fazia antes. Então, ela lentamente escolheu o silêncio no lugar da fala.
"Uma lâmina que nunca enferrujaria", "uma melodia de crueldade"... O que a acompanhava dia após dia eram os estalos que perfuravam a carne e os gritos de vidas se esvaindo...

Diziam que a mestra da espada vinda do mar tocava como ninguém, mas ela permanecia distante e em silêncio, nunca revelando o que havia em seu coração.
Ela tinha visto muitas mãos estendidas em sua direção. Algumas buscavam apagá-la, outras ofereciam ajuda. Elas tinham acendido uma chama após a outra, apenas para deixar cada uma delas se extinguir.

"Hysilens, para onde você está indo?"

Ela não conseguiu responder.
Seu antigo instrumento há muito se transformara em duas lâminas, com apenas réquiens cortantes ecoando das cordas agora.
Ela já havia desejado que alguém pudesse entender o anseio em sua canção, mas percebeu que o mundo dos humanos não era diferente do solitário mar profundo.
Todos eram apenas mais um peixe perdido, nadando cegamente em direção à luz.

"Hysilens, me siga. Eu vou te dar tudo que você procura."
A voz, alta e clara apesar do pequeno corpo de onde vinha, deixou uma impressão profunda. Mas a dúvida persistia em seu coração:
"E quando... a luz dela vai se apagar?"

Mas essa chama queimava como a luz do sol penetrando o mar profundo, mais brilhante e constante a cada momento que passava.
Ela observou a chama azul travar batalha após batalha, sempre emergindo vitoriosa. Ela viu ondas se erguerem como fogo vivo, viu a Gladiatorum rugir através do vento e do mar, engolindo cada tempestade de carnificina como um tubarão-baleia.
Ela ouviu a batida trovejante do coração, os tambores ressonantes da guerra, os passos como chuva caindo, a tristeza crescendo como uma maré. A voz pura, melodiosa do coração fluía através do sangue dos Herdeiros de Chrysos, despertando as cordas há muito seladas em sua mente.

O banquete que a Imperatriz havia prometido se aproximava. A jovem Tecelã sussurrou para as crianças ao seu lado, perguntando-se em voz alta se a fria e distante Gladiatorum os honraria com sua presença.
Entre as exclamações da multidão, a Tecelã se ergueu na ponta dos pés, prendendo a respiração para capturar o momento por completo.
Seu vestido, dourado e fluido, tocava as peças do chão como a luz do sol cintilando sobre as ondas.
E sob a luz de velas e lanternas prateadas, as pessoas viram novamente o brilho do mar.

"Ela atendeu meu desejo e cantou para nós sobre as baías do mar que o mundo há muito tinha esquecido."
Quando a monarca terminou de falar, a orquestra se iluminou. Luz e sombras dançavam diante dos seus olhos, serpenteando como ondas.
A música se elevou com as bolhinhas em suas taças, e no meio da multidão, ela percebeu que sua voz não ecoava mais em vão.

O duelo entre Labienus e Sêneca soava como batidas nítidas de tambor. Os significados ocultos de Vergínia pulsavam através de seus versos.
Tribios riu, e a música ganhou uma contramelódia brincalhona. Aglaea entrou em movimento, seus passos de dança tecendo a harmonia perfeita...

"Depois que essa batalha for vencida, Dux Gladiatorum, há algo que você deseje?"
Até mesmo a monarca composta parecia levemente embriagada.
Ela tomou um gole de hidromel, sussurrando para a monarca, sua risada dançando no canto do banquete.
Como estava brilhante aqui. Como soava adorável.
O mundo continuava girando, com o tilintar dos copos, o suave chocalhar do gelo.
A Sereia há muito silenciosa cantou novamente, sua voz derramando-se como hidromel...

"♫ A luz das velas brilha tão forte neste banquete.
Um novo mar.
Ele balança entre o tilintar das nossas taças... ♫"

Ela já tinha acreditado que a Perseguição às Chamas era a celebração eterna que ela sempre procurou.
Mas conforme a jornada continuava e mais se perdia, até aquela luz brilhante se estilhaçou como espuma do mar.

Ela tinha sido a lâmina mais afiada da Imperatriz, sua espada sempre banhada em sangue.
Mas quando o sangue dourado e derretido da Imperatriz pingou em seus dedos, ela de repente se sentiu afundando novamente naquele mar solitário e silencioso.
"Heh, por que... eu apaguei com minhas próprias mãos a chama pela qual eu nadei...?"
Por mil anos dolorosos, ela fugiu daquelas bolhas de memória ofuscantes, mas agora aqueles fragmentos há muito estourados se agarravam a ela como algas ondulantes, impossíveis de se livrar.

"Click."
Uma peça de xadrez pousa no tabuleiro. Apesar de sua compostura perfeita, a coroa de chamas da soberana revela o que ela não revela, dançando entre a serenidade e a intensidade feroz.
"Eu nunca aprendi a jogar."
"Então eu vou te ensinar."
Ela pega uma peça com dedos inexperientes. "Apenas mais um campo de batalha", ela pensa consigo mesma.

"Click."
De repente, chamas azuis vibrantes aquecem o ar ao seu redor como águas termais. Ela move as peças de xadrez sem muito pensar e pergunta:
"Se elas estão destinadas a desaparecer do tabuleiro, por que se dar ao trabalho de seguir em frente?"

"Click."
A governante toma um gole de hidromel, estica os braços com satisfação e suspira de prazer:
"Não é a jornada em si que já traz satisfação suficiente?"
...

Depois de um milênio de espera, ela forjou novos caminhos para a Perseguição às Chamas, mesmo sabendo que não seriam o destino final.
"O que um peixe realmente precisa é simplesmente de um mar para chamar de lar..."
Enquanto um fragmento de suas memórias se revela, ela caminha em direção às águas cristalinas do oceano.

♫ Pop ♫, ♫ Fizz ♫, ♫ Splash ♫... Bolhinhas de todas as cores refletem anos passados, se formando e estourando, estourando e se formando.
"Querida do oceano, você tem um desejo?"
"Hysilens, para onde você vai?"
"Dux Gladiatorum, o que você procura?"
...
Terra natal, banquetes, a Perseguição às Chamas... cada uma brilhou em sua vida, mas todas se dissiparam rapidamente como espuma passageira... Apenas um suspiro permanece pelo céu.
Desde o início até o fim, isso era tudo o que ela tinha, tanto no reino mortal quanto nas profundezas do oceano, nada além dos rastros fugazes de bolhas.

"Mas mesmo assim... como elas são lindas..."

"♫...♫"
"♫...♫"
"♫...♫"

O amanhecer de Amphoreus se aproxima.
Antes que a última bolha estoure, ela sorri, como se já tivesse cantado tudo o que seu coração precisava expressar além das palavras.