Misha

Um adorável e atencioso servente do Hotel Devaneio. Ele deseja se tornar um aventureiro intergaláctico como seu avô.
Ele é extremamente esforçado e habilidoso em consertar uma variedade de máquinas. Além disso, tem um apreço por ouvir rumores interestelares que os hóspedes compartilham com ele.
Ele espera crescer mais rápido e embarcar em sua própria aventura estelar.

Quando o relógio de bolso bateu seis horas da manhã, o cheiro familiar de leite e torrada vindo da cozinha invadiu o quarto.

Com a chegada iminente de convidados, ele rapidamente levantou da cama e se posicionou na porta. O cheiro de óleo de motor, couro e tabaco o recebeu, enquanto várias figuras altas entraram pela porta.

"B-Boas-vindas..."

Os aventureiros, que viajaram por planetas distantes, mal deram atenção à pequena figura os recebendo na porta, absortos em suas histórias animadas sobre batalhas peculiares. Essas histórias nunca deixaram de mexer com as emoções de Misha, atraindo sua atenção.

"Você viu um feixe enorme vindo do céu e queimando um planeta exuberante? Eu estava lá, e nossa nave foi destruída por uma rajada de vento insana... Eu arrisquei minha vida para tirar algumas fotos..."
"Ah, deixa eu te falar, isso não é nada comparado às coisas loucas que eu vivi. Uma vez, eu me aventurei nesse abismo na Zona da Memória. Foi como um pesadelo completo, com todos esses monstros inimagináveis e até fantasmas vagando por aí..."
"Você acha que isso é assustador? Experimente testemunhar o Enxame, que apaga completamente o céu inteiro! Eu mal consegui sair vivo daquela batalha infernal. E adivinhe só! O planeta inteiro foi destruído..."

Misha ouvia com inveja as histórias, fossem elas genuínas ou inventadas, e reuniu toda a sua coragem para falar.
"Hm... Com licença, mas se eu quiser me aventurar pela galáxia, o que eu devo aprender?"
A conversa foi interrompida, e vários exploradores viraram-se para ele.
"O que você disse, garoto? Você quer explorar a galáxia?"
"Sim... Eu queria virar um aventureiro... igual ao meu vovô."
"Quanta ambição! Hahaha!"
"Garoto, esse trabalho não é brincadeira. Você vai precisar aprender como lidar com armas, consertar coisas rapidamente e navegar por todo tipo de obstáculos. Requer uma riqueza de conhecimento!"
"Eu entendo... O vovô sempre reclamava sobre se perder e ter máquinas quebrando. Talvez eu possa começar lidando com esses problemas..."
"Ei, para de assustar o jovenzinho."
O homem mais velho na frente pigarreou e voltou a atenção para Misha.
"Você pode aprender tudo que precisar, mas vai precisar pensar se é isso que você realmente deseja. Você está realmente disposto a conquistar isso? E por quanto tempo está pretendendo ser um aventureiro? Essas são perguntas imprescindíveis, meu jovem."

Quando o relógio de bolso bateu duas da tarde, sinalizando o fim de seus deveres, ele trocou de roupa e começou a tarefa de consertar as máquinas.

Walder o guiou, parando ocasionalmente para dar uns toques nos mecanismos intrincados. Misha o acompanhou de perto, atento aos ruídos que emanavam do maquinário e localizando habilmente os problemas.

A tarefa de hoje envolvia consertar uma grande quantidade de relógios quebrados, descartados, com engrenagens faltando, enferrujados ou destruídos. Para Misha, eles pareciam marinheiros perdidos precisando de um guia.

"Por favor, vá para o oeste, Sr. Relógio de Parede... Ei, Srta. Relógio de Bolso! Não pare por aí!"
"Sr. Alarme, alimente-se antes de continuar. E vocês três, moças, sigam o Sr. Relógio de Bolso!"
Naquele momento, todos os relógios quebrados voltaram à vida. Misha girou as engrenagens e ajustou os ponteiros, como se ele fosse o capitão navegando no mar do tempo.
"Capitão Misha, estamos de volta aos eixos!"
"A névoa se foi! Estamos prestes a alcançar nosso destino."
"Vamos continuar navegando! O mar não vai mais nos atrapalhar!"
Aos olhos de Misha, os relógios pareciam ter vida própria, expressando seu deleite em mover-se adiante.

Walder sorriu e acariciou a cabeça dele.
"Parece que não vou precisar me preocupar com o tempo aqui. Afinal, você é o capitão desses relógios."

Quando o relógio de bolso bateu sete da noite, Misha acabou o jantar e se acomodou na cama que havia sido feita a partir de um armário.
Olhando para a escuridão à sua volta, ele ouvia o tique-taque incessante do relógio de bolso. As horas mais abençoadas do dia dele. Sem trabalho, sem realidade, apenas voos irrestritos de fantasia.

Após viajar pela neblina, a história de fantasia chegou à parte mais emocionante da batalha marítima. Ele estendeu as mãos, puxando os companheiros derrubados pelas ondas, e desenhou outra linha na tela como se estivesse vencendo um monstro marítimo...

"Capitão, capitão, acorde, está clareando!"
Ele esfregou os olhos e olhou incrédulo para a paisagem diante dele.
Um relógio de bolso dourado, que havia se transformado em uma figura com braços e pernas, vestido com um uniforme e gravata-borboleta vermelha, acenou para ele.
Uma senhora que era um espelho prateado o refletiu, ajustando o vestido e olhando através dos binóculos para a cena distante.
A tempestade da noite anterior desapareceu sem deixar rastros. Uma brisa marítima refrescante fez o uniforme de Misha se agitar, e, ao longe, eles conseguiam ver o contorno do Novo Mundo.

"Olha, capitão, a costa não está longe!"
Pegando a mão de Misha, o Sr. Relógio de Bolso e a Srta. Espelho pularam graciosamente nas nuvens. Antes que pudesse reagir, os três estavam no ar, olhando para o mar sem fim e o continente em formato de lua crescente abaixo deles. O Sr. Relógio de Bolso e a Srta. Espelho ficaram felizes, conduzindo Misha numa dança animada. Ele segurou as mãos dos companheiros, cheio de admiração e alegria.

"Vocês... Vocês são meus companheiros?"
"Sim, já enfrentamos inúmeros desafios e nos perdemos várias vezes no meio do caminho, mas finalmente achamos o Novo Mundo!"


Ao amanhecer, Misha acordou do sonho, uma lágrima descendo pelo canto do olho.
Olhando para o quarto, ele viu o relógio de bolso apertado contra seu peito, e o espelho havia caído da parede.
Enxugando as lágrimas, Misha sentiu como se não tivesse perdido nada, e ainda assim tivesse perdido tudo.

Quando o relógio de bolso bateu seis horas da manhã, o cheiro familiar de leite e torrada vindo da cozinha invadiu o quarto, como sempre.

Ele havia voltado à vida, enterrando os sonhos no fundo do seu coração. Ele não se deixava mais encantar facilmente pelas histórias dos hóspedes e nem tinha mais esperança de que seu avô voltasse logo.

"Talvez os adultos sejam assim mesmo. Não cumprem promessas, e não ouvem as crianças."
Ele pegou as malas e bolsas dos hóspedes. Eles passaram sem olhar, deixando-o falando sozinho.

Ele voltou para a sala de relógios e checou os vários relógios que marcavam horas diferentes de lugares diferentes, como sempre. Misha olhou sem expressão para a parede cheia de relógios, imaginando as histórias e os mundos que havia neles. Perdido em pensamentos de reinos fantásticos, ele desdobrou um pedaço de papel e começou a desenhar as aventuras que viveu com seus companheiros imaginários.

Esse foi o fim da história.

"Adeus, companheiros! Ficarei no Novo Mundo, e quando ele for concluído, continuarei viajando com vocês para outros novos mundos!"
"Adeus, Capitão Misha! Espero que nossos caminhos se cruzem de novo!"
Todos os companheiros dele foram embora, exceto seu primeiro imediato, Sr. Relógio de Bolso, e a gentil Srta. Espelho. Eles passaram por névoas e atravessaram o mar juntos. Em momentos cruciais, Misha levou o navio deles para a direção certa. Agora, a criança chamada Misha começaria a construir um reino novo num continente novo até que a oportunidade de outra jornada surgisse.

"Se eu for desenhar alguma coisa nova, minha próxima criação será sobre as aventuras no novo mundo."
Quando ele terminou, ouviu um som familiar e vibrações, como se um ser colossal tivesse emergido das profundezas do universo e chegado no lado de fora do portão do hotel.

Ele deixou de lado os pincéis, abriu a porta e saiu correndo...

"Boas-vindas a..."

O Expresso Astral, brilhando na luz da manhã, exausto e orgulhoso, aguardava ali, estacionado e silencioso.
Como no sonho.