Moze

Um Guarda das Sombras do Yaoqing, Moze é taciturno e solitário, sempre agindo por conta própria.
Como especialista em serviços de inteligência e outras operações que devem permanecer secretas, Moze raramente se mostra diante dos outros. O momento em que revela sua lâmina geralmente marca a condenação de seus inimigos.
Ele domina uma vasta gama de técnicas de assassinato, combinadas com uma extraordinária obsessão por ordem e limpeza.

"Misericordioso do Sanctus Medicus... Agora, ouça-nos. Engula isto. Não só a sua doença será curada, mas você se tornará semelhante a espécies macróbias... Você deve viver uma vida longa, muito longa..."
Ele tenta engolir o remédio, mas não ousa inalar.

Ele não faz ideia de quantas vezes mais teria que aguentar esse sofrimento. O líquido espesso passa pelo seu esôfago como se ele engolisse agulhas. Uma vontade forte de vomitar aperta todo o seu peito.
"Engula. Não cuspa. Isso é remédio... "O corpo dele também ecoa este sentimento: engula. Engula. Engula.
Engula, e você nunca mais terá que enfrentar a ameaça de feras selvagens, nunca mais cairá nas mandíbulas escancaradas e sangrentas do medo.
Engula, e seu corpo deixará de ser fraco, e nunca mais você terá que assistir parado à morte de seus companheiros.
Engula.

Enquanto seus órgãos e carne começam a consumir o remédio, um poder estranho passa por dentro dele. Ele anseia por ar, mas a sensação de ser devorado e despedaçado que se espalha de seu abdômen até seus membros o faz se sentir sufocado.
"Aguente. Assim como antes... Se você puder aguentar..." Ele não produz mais nenhum som. Apenas seu corpo está conversando com ele.
Aguente. Ele não será mais o órfão abandonado por seu povoado na selva.
Aguente. Então toda palavra que ele proferir será respondida, e ele não estará mais sozinho.
Aguente.

"Moze? Como você está se sentindo?"
"Muito bem. Parece que você aguentou mais uma vez."
"Continue assim. Não tenha medo. Todas as suas aflições serão eliminadas."
"Quando chegar a hora... Você poderá fazer o que quiser. Caçar as feras selvagens, proteger seus companheiros, viver uma vida longa e saudável..."
"Quando seu corpo estiver completamente curado... você obterá uma nova vida... e realmente fará parte da nossa família."
"Quando a hora chegar, vamos realizar as vontades uns dos outros."

Quem diria que é preciso suportar tanta dor para finalmente encontrar sua família?
"Dói..."
Ele não aguenta mais. O som da agonia abre caminho pelas rachaduras de seus dentes cerrados. No entanto, a pessoa ao seu lado diz, simplesmente:
"Unidade dos Discípulos do Sanctus Medicus, o verdadeiro caminho da Imortalidade. Passe por este teste em segurança, e a vitória significará a vida."
"A misericórdia do Sanctus Medicus."

Ninguém se importa com o que ele tem a dizer, então ele, aos poucos, se acostuma a não falar.

"General, relatório! Cento e dezessete dos Discípulos do Sanctus Medicus foram capturados e serão entregues para a Comissão dos Dez Senhores para serem presos."
"No entanto, este jovem provavelmente foi torturado com os remédios deles. Veja..."
Enquanto ele se esconde nas sombras, a mulher a quem se referem como "general" anda até ele. Ela claramente já havia notado sua presença.

"Quando a hora chegar, vamos realizar as vontades uns dos outros."
A voz que ressoa em sua mente não apresenta nenhuma emoção, mas, devido à repetição diária à qual foi exposto, ele ergue sua adaga de uma só vez.
Só que, num piscar de olhos, a adaga cai no chão.
"Você deseja me matar?"
"Você matou a minha família."
Ele nota um mal-estar momentâneo nos olhos da mulher com orelhas de raposa.
"Você os considera sua família?"
"Eles me salvaram. Eles são o único motivo para eu estar vivo."
Ela solta o garoto e balança a cabeça.
"Vejo que você não sabe de nada... Deixa para lá. Alguém virá planejar um lar e uma vida para você. É só acompanhar essa pessoa que você ficará bem."

Ela se vira para ir embora, e o garoto continua abaixado no chão, simplesmente encarando as costas dela. Ele sabe que esta pode ser sua última chance.
Ele pega a adaga do chão, pula alto no ar atrás dela e avança contra ela.

"Um ótimo ataque!" Ela o elogia.
Desta vez, a adaga não cai no chão, porque acaba nas mãos da mulher. Mas ele não desiste. Ele desvia para os lados e chega até mesmo a morder a mão da mulher ao ver que seus movimentos não funcionaram.
"Não é educado morder as pessoas, sabia? Ah, não se preocupem comigo. Parem... Esta criança me lembra de mim mesma no acampamento de guerra dos Borisins."
A mulher não revida. Ela simplesmente desvia dos ataques dele. O jovem está arfando, sem ar, mas ainda procurando desesperadamente uma brecha nas defesas dela.
Eles estão em um impasse.

"Que tal isto? Você pode voltar comigo."
A mulher puxa um strale e entrega ao jovem.
"Vou fazer um acordo com você. Venha comigo, e você pode me desafiar quando quiser até o dia que sua vingança for bem-sucedida."
"Como assim?"
"Se você vier comigo, pode me matar a qualquer momento."
Até mesmo os Cavaleiros Verdejantes ao redor estão perplexos com as palavras dela.
"É claro, até o dia em que você me matar, você deve fazer o que eu disser. Você vai comer três refeições por dia, estudar, aprender artes marciais... Ah, e vai tomar banho todos os dias."
O jovem engole em seco.
"E depois que eu te matar?"
A mulher parece surpresa por um momento antes de soltar uma gargalhada alta.
"Então, naturalmente, você será livre para fazer o que quiser."

"Quem é você?"
Ele não diz nada, mas as pessoas que estão em frente à morte tendem a falar bastante.
"Já sei. Você é o Guarda das Sombras da Feixiao. É isso, não é? Você passou sua vida inteira trabalhando nas sombras, fazendo coisas que nunca deveriam ser expostas à luz do dia..."
"Que tal eu te dar uma chance? Meu mestre quer saber se o boato de Feixiao ter sangue de Borisin é real. Se conseguirmos chegar a um acordo, então, quando derrotarmos a Fei... Argh!"
A situação era como ele suspeitava. Então ele dá um fim ágil à sua missão.

Esse é o dever dele como Guarda das Sombras. Não há consideração pelo certo ou errado... Suas ações são motivadas apenas por ordens.
Isso porque, para ele, cada missão bem-sucedida é uma oportunidade... Uma oportunidade de vingança.
"Para cada missão bem-sucedida, você receberá um strale. Um strale comprará o perdão de cada tentativa de assassinato."
Ele antes se preocupava por achar que não conseguiria se aproximar de Feixiao, mas foi designado como Guarda das Sombras do Yaoqing e a acompanhou lado a lado a todo tempo.
Suas tentativas de assassinato nunca deram certo, mas, com elas, ele dominou a arte de desaparecer e ressurgir como um fantasma. A lâmina que investe das sombras não tem só a general do Yaoqing como alvo, mas também os inimigos do Yaoqing do Xianzhou. Ele é a sombra onipresente.

"Você é... o Tonhão do Corvo?"
Outra missão concluída. Sentada no chão, a criança pergunta timidamente.
Dizem que o Tonhão do Corvo bate em bandidos, pune o mal e luta pelo bem... mas... As roupas que ele usa são tão escuras que ninguém o vê...
"Você é tão forte e suas roupas são tão escuras, tão, tão... e-eu agradeço por ter me salvado!"
Pune o mal e luta pelo bem? Essa não é a motivação dele. Ele só salvou o menino por acaso enquanto cumpria uma de suas missões. Entretanto, ele realmente se acostumou a se esconder nas sombras e a ficar atento a tudo que acontece, não permitindo que nada passe despercebido.
Aos olhos sonhadores da criança à sua frente, ele enxerga a si mesmo claramente com as roupas escuras.
Percorre a escuridão e se põe de pé no escuro.
O Tonhão do Corvo, o Guarda das Sombras... ele é tudo isso.

O curandeiro Vulpe cobre parcialmente o rosto ao observar a cena diante de si com uma preocupação empática... Inúmeros olhos, ouvidos, línguas, dentes, membros e muita pele emergem dos corpos que caem adiante, como se esse sofrimento final fosse em vão.

Pela primeira vez em muito tempo, Moze se sente desconfortável. Não só por causa da cena diante dele, mas porque ela lhe lembra suas turvas Memórias do Passado.

"A misericórdia do Sanctus Medicus... uma vida sem limites... a velhice jamais chegar... os mortos voltarem à vida..."
Uma multidão de discípulos do Sanctus Medicus tateia em conjunto. Embora um esteja muito ferido, aqueles ao seu redor simplesmente continuam murmurando palavras familiares.
"Os traços divinos da Abundância curarão seu corpo... rapidamente. Beba isto..."
"O sofrimento é temporário... Você terá uma vida plena outra vez. Não morrerá neste mo... mento..."
Em um clarão, quem falava cai no chão. O Guarda das Sombras em vestes negras surge sob a luz diante deles e assume uma postura solene. O silêncio não pode esconder a fúria assassina que mais uma vez surge dentro dele.
...
"Essa gente não é mais gente. Eles não sentem dor... Mas e você? Com ferimentos assim, você vai me dizer que não sente dor?"
O curandeiro Vulpe salpica pó nas feridas dele e tagarela, como sempre.
"Originalmente, viemos fazer um reconhecimento. Eu disse que tínhamos bons reforços. Por que você resolveu agir?"
Ele não diz nada, simplesmente encara a adaga afiada e ensanguentada em suas mãos.
Ao longo dos anos, durante todas as missões que cumpriu, ele já há muito passara a entender o que era aquela sua antiga "família". Entretanto, ele se recusa a pensar nisso profundamente, e tampouco a reconhecer que seu ponto de vista mudou ao longo dos anos. Se ele reconhecesse, que importância teria sua vingança e o juramento deles?

"Isso dói?"
"..." Ele ainda se recusa a falar.
O curandeiro Vulpe decide acelerar seus movimentos, enfaixando os ferimentos dele com gaze e apertando um pouco demais como quem não quer nada.
"Ai..."
"Se dói, então você precisa falar. De que adianta suportar sua dor? Ver você assim é um tormento para mim."
Ele balança a cabeça afirmativamente.

Ele se acostumou a não falar, mas também a ter gente para falar em seu nome.