Loba Prateada

O universo é só outro jogo para esta superhacker.
Não importa quão espinhoso seja o sistema de defesa, a Loba Prateada pode invadi-lo com facilidade. A batalha de hackeamento que ela teve com Screwllum, da Sociedade de Gênios, tornou-se uma lenda no mundo hacker.
Quantos níveis faltam para superar no universo? A Loba Prateada gostaria muito de descobrir.

Ela brincava com o controle dia após dia.
Um restaurante fast food com apenas uma funcionária, um porão transformado em salão de jogos com vários fliperamas antigos. Aquela foi a infância dela.

Ela não tinha um nome legítimo ou um número de identidade, apenas um apelido que a proprietária tinha escolhido para ela.
Ela não tinha amigos, mas não era sozinha.
Ela gostava de jogar Pong, duas linhas e um pontinho de luz, o mais simples dos jogos de bola. Ela podia passar um dia inteiro jogando.
Ela gostava de Battle Wheel 32, oito blocos de cores diferentes num céu desenhado em forma de matriz. Havia apenas uma regra: vencer, independentemente de qualquer coisa.
Ela gostava de Geometric Wars, Odysseus e Star Cheetah. Os recordes de pontuação nesses jogos estavam cheios de marcas astronômicas conquistadas por outros fregueses.

Ela brincou com o controle dia após dia.
Até o dia em que só havia um nome em todos os recordes de pontuação.

Ela largou o controle e olhou em volta no porão vazio.
Muitas pessoas buscavam alívio naquele lugar, mas poucos permaneciam.
Muitos foram embora, e poucos voltaram.
Ela piscou e desligou o monitor.

Naquela noite, a única funcionária do restaurante fast food se despediu da proprietária e foi a próxima pessoa a ir embora.
O jogo chamado Porão terminou naquela noite.

Ela viajou para o oeste através das terras estéreis e chegou ao Monte Sucata.
Ela quer encontrar um trabalho, mas suas tendências reclusas atrapalham.
Em Punklorde, quase todo mundo trabalha em equipes. Pessoas reclusas não costumam durar muito tempo.

Conformada com sua situação, ela fabricou para si alguns parceiros virtuais.
O primeiro ela chamou de Amigo. É claro que ele era.
O segundo era o Lorde Demônio, inspirado por um pôster que ela viu nas ruas. Na imaginação dela, se tratava de um veterano que tinha perdido a capacidade de falar.
Ela de repente pensou que essa equipe estava harmoniosa demais, e estava faltando realismo, então decidiu chamar o terceiro de Colarinho-Branco e o quarto de Subordinado.
O último foi o Colega de Jardim de Infância, e não havia um sentido especial associado a ele. Ela tinha simplesmente ficado sem ideias. Depois de muita deliberação, ela excluiu essa última pessoa da sua lista.
Ela armazenou seus "parceiros" em uma arma inteligente para que ela pudesse apresentar sua equipe de tamanho considerável de maneira pomposa a intermediários.

Ela conseguiu seu primeiro trabalho. Ele envolvia um risco tão inimaginável quanto a recompensa.
Ou talvez ela tenha se vendido tão bem que as pessoas acreditaram nela, ou talvez quisessem apenas ver o desempenho dessa novata, quer viva, quer morta.

Em Punklorde, quase todo mundo trabalha em equipes. Pessoas reclusas não costumam durar muito tempo.
Já aqueles que duram, podem, eventualmente, se tornar lendas.

Depois de 24 horas do sistema, ela saiu da base da Gangue Escória, sozinha, pelo portão da frente.
O intermediário estava em silêncio. Ele olhava para ela e para o céu, depois virou e lançou ao chão um baú cheio de lingotes de ouro.
O jogo chamado Monte Sucata terminou naquele dia.

Ela ficou de pé no topo do edifício mais alto da Cidade do Arco-Íris, e lá de cima, ela podia ver o lugar onde tinha nascido.
Um restaurante fast food com apenas uma funcionária, um porão transformado em salão de jogos com vários fliperamas antigos. Aquela era a sua infância.

Ela se lembrou de que gostava de jogar Pong, duas linhas e um pontinho de luz, o mais simples dos jogos de bola. Ela podia passar um dia inteiro jogando.
Assim como as luzes rubi dos drones voadores enchiam o céu noturno de linhas cruzadas. Eles avançavam contra ela e caíam, revoada atrás de revoada.

Ela se lembrou de que gostava de jogar Battle Wheel 32, oito blocos de cores diferentes num céu desenhado em forma de matriz. Havia apenas uma regra: vencer, independentemente de qualquer coisa.
Era como as cores distintas que dividiam a internet em oito regiões, com pessoas de todos os tipos de organizações se reunindo na praça com um só objetivo: capturar a Loba Prateada, custe o que custar.

Ela se lembrou de que gostava de Geometric Wars, Odysseus e Star Cheetah. Os recordes de pontuação desses jogos estavam repletos de números astronômicos impossíveis de superar.
Assim como agora... não, está um pouco diferente...
"Impossível de superar." Heh, o que é isso?

Ela ficou de pé no topo do edifício mais alto da Cidade do Arco-Íris, e lá de cima ela podia ver o lugar onde tinha nascido.
Ela havia subido tão alto que ninguém poderia se colocar ao lado dela.
Contudo, ela olhou ainda mais alto que antes. Ela podia ver o céu estrelado ao alcance das suas mãos, mas mesmo assim impossivelmente distante.

"Que tédio".
O jogo chamado Cidade Arco-Íris terminou naquele dia.

Ela ficou de pé em uma cadeira e limpou a poeira do monitor do fliperama em movimentos circulares sem parar, tentando remover cada partícula de pó.
Ela voltou para o restaurante fast food, para aquele porão. Ela abriu a porta, e tudo estava onde costumava estar. A proprietária tinha mantido todos os arranjos para ela.

A leve luz rosa se despejava na tela como as luzes de neon da cidade, que a lembravam dos céus estrelados que ela viu naquele dia.
Ela não era a primeira a alcançar o topo daquele edifício nem a primeira a vislumbrar aquela expansão estrelada.
Ela conhecia a história de Zero, o melhor hacker e o jogador mais aterrorizante da era das Guerras da Internet. Ele provocou a primeira paralisação da rede global só para convocar a nave de escolta da CPI até a porta dele.
Ela pensou no Sábio, o criador da tecnologia de edição de éter, um esquisitão que deu a si próprio o nome de um morto. Para poder deixar o planeta, ele estava disposto a se livrar da própria carne, invadir a Zona Escura, e se tornar um espírito vagante para sempre pela Rede Interastral.
Ela se lembrou do Lâmina de Pedra, o orgulho do Monte Sucata. As histórias dele resistindo à Zona Oásis foram frequentemente narradas entre as famílias nas terras estéreis. Alguns disseram que em algum momento ele foi embora com os Vigias da Galáxia, mantendo-se como uma faísca de rebeldia no cosmos.
Cobra Gêmea, a sua amante, foi uma celebridade na Zona Oásis. O paradeiro dela era amplamente discutido, todas as pessoas sabiam que o nascimento deles não poderia impedi-los de ficarem juntos, mas o cosmos acabou separando-os.

Em Punklorde, qualquer hacker que possa ser chamado de "lendário" acaba sofrendo o mesmo destino.
E como a lendária daquela era, ela sabia que estaria em breve chegando naquele momento.

Toc, toc... Ela escutou os passos vindos de cima, se aproximando cada vez mais...
Uma, duas, três, quatro pessoas.
Um homem, uma mulher, um humanoide de metal, e...
Ela se sentou, virou e olhou pelo porão vazio uma última vez antes de se virar para a pessoa que estava à porta...

"Estou dentro."
O jogo chamado Punklorde terminou naquele dia.