Yukong

A chefe da Comissão de Exploração do Céu do Luofu do Xianzhou é gentil, mas também experiente e assertiva.
Ela é piloto desde jovem e se tornou chefe da comissão por conta de suas incríveis conquistas em combate, porém ela não voa mais em razão de uma batalha particularmente cruel.
Ela perdeu um pouco do brilho quando mudou seu foco para tarefas oficiais, mas está sempre guiando o curso do Luofu.

"Sabe, apenas três tipos de pessoas podem trabalhar na Comissão de Exploração do Céu.
As que têm o dom da lábia, as que procuram emoções intensas, e as que anseiam retornar às estrelas. E não há exceções".

Nós somos diferentes dos Xianzhouitas, que têm vidas intermináveis. Mesmo que os Vulpes também sejam considerados uma espécie macróbia, nossas vidas duram só três séculos. É por isso que muitos de nós somos mais fervorosos para aproveitar a diversão da vida, perseguir os melhores momentos da vida com todo o nosso coração e nossa alma.

Eu? Tenho atualmente 246 anos. Estou a um passo do túmulo e já passei faz tempo dos meus dias de diversão despreocupada. Você deve saber do meu jeito obstinado e incisivo de quando eu era mais jovem. Nas histórias dos Xianzhouitas mais antigos, é possível que você ouça de algumas das minhas conquistas, como ultrapassar seis sinais vermelhos consecutivos.

Eu tinha acabado de me tornar adulta, e me arrastaram bem na frente do general pelas minhas infrações... Sabe o que aconteceu? O general quis que eu me juntasse à Comissão de Exploração do Céu, puramente por conta do meu talento como pilota, ele acreditou que eu teria o potencial de conquistar grandes coisas na Comissão de Exploração do Céu.

Antigamente ele costumava me chamar de "Garota Delinquente." Mais tarde, todo mundo passou a me chamar de "Ás."

"Velhos decrépitos são inúteis, como trapos de roupa rasgados pendurados em um graveto."

Há muitos anos, eu ouvi um poema antigo que não era daqui. Sua estrutura, forma e rimas diferiam das dos poemas do Xianzhou. Eu particularmente não gosto do estilo, mas essa frase em especial permaneceu comigo, como um fantasma que eu não era capaz de afugentar.

Eu já testemunhei como os Exomundos envelhecem, como a pele deles fica solta, os músculos encolhem, como seus cérebros degeneram de forma irreversível, como seus ossos se enfraquecem e sua vista fica nublada...

Eu posso entender a inveja que eles sentem de nós. Eu pensava do mesmo jeito, que nunca envelheceríamos, que manteríamos para sempre essa mesma aparência jovial.

Sempre que saímos para uma batalha, eu prometo a meus companheiros. "Preocupem-se apenas em manter-se junto das armas. Eu vou levar vocês de volta para o Xianzhou."

Mas eu quebrei minha promessa. Ao fim daquela fatídica batalha, apenas eu retornei à Comissão de Exploração do Céu, arrastando meu corpo danificado.

Eu jamais posso voltar. Isso eu entendi à época.

Desde então, eu foquei totalmente nos documentos oficiais, e abandonei qualquer sonho de retornar aos céus.

Eu envelheci.

"A trama desta história é o exato oposto da de Xianzhouitas como você."

Esta história veio de além do Xianzhou. A história é sobre um jovem que fez um acordo com uma divindade. Ele desejava ser imortal. A divindade realizou seu desejo. Ele não morreria, mas seu corpo enfraqueceria e definharia continuamente, para sempre. Ele carregaria o fardo e o sofrimento da perpetuidade. E isso apenas porque ele ousou sonhar com um corpo que jamais se alterasse.

Ao fim da história, o velho que a narrou para mim expressou os sentimentos acima. Para os Exomundos, as embarcações do Xianzhou talvez sejam naves vindas dos sonhos, que atravessam o oceano de estrelas onde as pessoas irão passar suas vidas eternas desfrutando a alegria sublime, sem nunca conhecer a dor da separação, da velhice ou da morte. Na minha opinião, este não era o caso.

Os Xianzhouitas estão passando precisamente pela experiência de uma deterioração eterna. Sim, eu continuo com a mesma energia que tinha aos meus cinquenta anos. Eu consigo atravessar um vale estreito de apenas dois metros com meu esquife estelar, consigo dançar sem parar por horas, consigo cantar... Talvez você duvide, mas eu canto melhor que muitos artistas que se apresentam no Santuário Glorificado.

Infelizmente, eu não voltarei a fazer nenhuma dessas coisas. Eu não quero, elas não me trazem nenhum prazer. Quase nada me traz prazer. Não mais.

Essa é nossa deterioração. É a deterioração de todos os Xianzhouitas.

"As pipas são lembranças dos pilotos caídos.
Cuide bem delas. Deixe que elas voem uma vez mais, por aqueles pilotos que não podem voltar ao céu."

Quando engatinhei para fora dos destroços em chamas do esquife estelar, eu vi o céu daquele planeta que não tinha sangue nem emoções, intocado pela atmosfera.

Aquele era o céu mais lindo que eu já vira, mas tudo que pude sentir foi uma tristeza insuportável. Eu só consegui me arrastar pela terra feito uma maldita formiga, olhando para aquilo tudo com a respiração ansiosa.

Em meu sonho, aquele foi o dia em que morri.

Eu penso muito nisso. Penso no passado. Eu vi sóis mortos, vi planetas sencientes, vi a Flecha Luminosa da Flecha do Destino. Eu já vi demais. Vi estrelas além da conta. Já vi muitas vidas se encerrarem. Eu vi o nascimento de muitos seres. Eu já vi demais. E estou envelhecendo. Acho que estou envelhecendo. Eu vou morrer. Minhas asas estão quebradas. Eu não posso voltar. Acho que estou envelhecendo. Eu não posso voltar. Acho que vou morrer. Minhas asas estão quebradas. Eu não posso voar. Sou como uma formiga. Acho que não posso voar. Minhas asas devem estar quebradas. Eu quero voltar. Quero voltar para o céu. Eu quero voltar. Quero voltar para o céu. Eu quero voltar.

Eu acordei do sonho.

Eu quero voltar. Eu quero voltar. Eu quero voltar.

Eu preciso voltar. O céu estrelado me pertence. Eu anseio pelo meu retorno aos céus.

Eu vou concluir o último voo da minha vida.